Até 12 de Junho está patente a exposição, The Return of the Real 14 de Eduardo Matos. O museu de arte é hoje um templo de legitimação que, apesar dos abalos críticos dos anos 60 e 70, tudo parece absorver em seu favor, convertendo-se cada vez mais num lugar incontestado ao assumir-se inclusive como paradigma da interdisciplinaridade artística contemporânea. No entanto, se a percepção da experiência de receptividade observada nos museus remete desde logo para as ideias de silêncio contemplativo e rigor comportamental, a verdade é que há sempre margem para a ambiguidade interpretativa dos seus significados.Neste contexto, Eduardo Matos (n.1970) apresenta-nos uma projecção-vídeo que resulta, em parte, desta atmosfera específica em torno do aparato perceptivo de um espaço expositivo como o do Museu do Neo-Realismo, nomeadamente a sua fusão entre a arquitectura e o formalismo museográfico, entre o registo da vigilância e o gesto associado ao acto da visita. O próprio dispositivo da imagem, situado entre o filme (que mais parece determinado pelo sistema de videovigilância) e a fotografia (pela promoção de certos aspectos de imobilidade), traduz um sentimento de indefinição visual e suspensão do seu sentido. Por outro lado, inspirado pelos conceitos deleuzianos de “diferença” e “repetição”[1], o artista encena pequenas variantes sobre a experiência da partilha (entre profissionais do museu e o público visitante) de um espaço museológico carregado de simbolismo, mas igualmente associado à contemporânea musealização de todos os temas ou objectos patrimoniais. A este regime de representação do espaço e da sua ocupação, Eduardo Matos acrescenta ainda um sentido de enleio, quase hipnótico, ao repetir ininterruptamente, na imobilidade intermitente dessas figuras, uma perspectiva circular que inviabiliza qualquer hipótese de estabilidade sobre a noção de espaço expositivo e a sua expressão humana.
[1] Cf. Gilles Deleuze, Diferença e Repetição, (1968), (trad. port.), Lisboa, Relógio D’Água, 2001
Museu do Neo-Realismo | Rua Alves Redol, 45 | Vila Franca de Xira | Terça a Sexta, das 10h às 19h |Sábado das 12h às 19h |Domingo das 11h às 18h |Encerra aos Feriados | www3.cm-vfxira.pt/PageGen.aspx?WMCM_PaginaId=30542
[1] Cf. Gilles Deleuze, Diferença e Repetição, (1968), (trad. port.), Lisboa, Relógio D’Água, 2001
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