Até 2 de Julho está patente a exposição, Flip Side, a primeira individual de Pilvi Takala em Portugal. Flip Side incluirá dois trabalhos recentes da artista, The Messengers (2008) e Real Snow White (2009). Em Real Snow White, a lógica absurda da existência de uma “personagem real” e a extrema disciplina da Disneylândia tornam-se evidentes quando uma fã da Branca de Neve é proibida de entrar no parque de diversões vestida com um fato da sua heroína. Ainda que os visitantes sejam encorajados a consumirem e usarem disfarces e muito merchandising seja vendido no parque, disfarces completos são permitidos apenas a crianças. O slogan da Disney, Dreams Come True significa, obviamente, sonhos produzidos exclusivamente pela Disney. A possibilidade de algo, ainda que insignificante, fugir ao controlo estabelecido despoleta imediatamente o receio da realidade. A imagem da inocente Branca de Neve a realizar algo errado (mau) é tão obviamente real, que os seguranças e a gestora referem-se a ela como razão para não permitir a entrada no parque de uma adulta disfarçada de Branca de Neve. The Messengers é uma intervenção nos media croatas e, mais especificamente, na publicação Story, uma revista cor-de-rosa, especializada em escândalos de celebridades, e na sua fixação pela celebridade local Vlatka Pokos. A génese do trabalho encontra-se na ideia de mexerico invertido. Esse mexerico pode ser qualquer pormenor mínimo sobre a vida da pessoa famosa desde que a retrate de forma negativa. Em vez de espalhar rumores sumarentos, Takala reporta actos insignificantes, mas positivos, cujo valor em termos de escândalo é nulo, mas quando realizados por uma celebridade tornam-se dignos de nota. Estas pequenas e absurdas notícias criam uma rutura no formato tradicional do tabloide devido à sua falta de sensacionalismo e a não serem mais do que uma manifestação ingénua de entreajuda. Através destas duas peças, Flip side propõe-se a olhar para os mecanismos subjacentes à construção da ideia de personalidade pública, seja através de uma personagem propriedade da Disney, que se torna demasiado tangível, escapando assim ao controlo que a multinacional detém sobre a subjectividade e imaginários colectivos, ou de uma celebridade croata cuja vida e acções são definidas e compreendidas na medida em que são mediadas pela imprensa sensacionalista. Em ambas as situações, as figuras não são mais do que construções ficcionais, uma delas tornando-se demasiado real para os padrões da ficção e a outra parecendo demasiado ficcional para os critérios da realidade. Pilvi Takala usa frequentemente formas narrativas que se baseiam em acções que decorrem em ambientes sociais específicos. Através de intervenções subtis a artista cria situações onde as regras implícitas e as verdades partilhadas são reveladas, questionadas e eventualmente reinventadas. Interessa-se pelas regras sociais que seguimos no dia-a-dia e por encontrar formas de atingir o limite da nossa tolerância por forma a criar aberturas, ou exceções no quotidiano e assim vermos algo onde pensávamos não existir nada.
Kunsthalle Lissabon | Rua Rosa Araújo 7-9 | Lisboa | Quinta a Sábado, das 15h às 19h | www.kunsthalle-lissabon.org
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