terça-feira, 19 de julho de 2011

Círculo de Artes Plásticas de Coimbra


Até 30 de Setembro está patente a exposição colectiva integrada no II Festival das Artes de Coimbra, Negras Paixões. Artistas participantes: Alice Geirinhas, Albuquerque Mendes, Helena Almeida, Rui Chafes, Sofia Leitão e Vasco Araújo. "Está exposição propõe-nos uma dialogia intertextual em torno do negro e da paixão através de um grupo de obras de artistas portugueses contemporâneos. Como uma espécie de redundância, o manto protector da opacidade material (“Negras”) e o tormento (“paixões”) falam da necessidade com que não se consegue viver, do sorriso que asfixia, do ciúme que empareda vivo. Comecemos pela paixão, pela ausência que torna o quotidiano irrespirável; pelo lugar inabitável onde tudo faz sentido. O fundo das escadas chama-me e eu não quero ir. A dor que regressa à bestialidade, o braço explodido, o braço que aponta tornando-se maniqueísta. A paixão como a descrença radical na partilha- que tudo acabe antes dela, que tudo seja efeito e ela causa, combustível, incêndio, fim. Aqui o negro é um oráculo que não memoriza apenas o informe. A anatomia energético-pictórica inaugurada por Malevitch (o negro enquanto fisionomia do que não é indexical, do que não serve de mediador, o negro como a inflamação do acontecimento) é apenas uma das doxografias do negro na arte; o negro é polifónico como um mudo que grita com gestos, não se constrói apenas da rendição letárgica da superfície, do transcendente, (do ser e do espírito), expostos prolongadamente às intempéries do tempo como um plástico desbotando-se; o negro fala mas da oportunidade da morte e do nascimento serem contemporâneos, de rejeitarem a narrativa causal, vive-se para morrer e para viver-se outra vez (no ego mortal pulsa a esperança na pós-vida, no que se deixará, no que ficará); o negro, aqui, como uma conjunção biográfica do passado e do futuro, de Sísifo que continua a comprar um livre trânsito mensal para os anéis suburbanos da cidade desterritorializada, do cavalo de Tróia que tombou exausto no último lanço de escadas, da iluminação feminina preservada em álcool, de uma imagem vulgar, bela mas vulgar, do primitivismo pós-industrial de uma máquina de flagelação. O negro como consciência de que a perfeição nunca nos visitará É assim o “despertar para um grande sonho”, o absolutismo da auto-negação subjectiva (tentar a identidade total com o outro que se ama, tentar que a contemplação se torne gestação) deixa um rescaldo de dopamina e fatalidade. Como é que as palavras que trituram o mundo em recapitulações explicam a impossibilidade da imitação? E como é que os impulsos sintácticos da poética seja ela logocêntrica ou tempestuosa, uma pluralidade de mundos ou o mundo no seu plural, lidam com a aporia dos objectos? E o espectador conseguirá desprender-se da sua história, do excesso de significado da sua dor pessoal, do seu caso e aproximar-se da consciência do significante, isto é, da mitologia do objecto exposto? " (Pedro Pousada)
Legenda da imagem: Alice Geirinhas e Vasco Araújo
Círculo de Artes Plásticas de Coimbra - Sereia | Jardim da Sereia | Coimbra | Terça a Sábado, das 14h às 18h

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