quinta-feira, 31 de março de 2011

MARZ Galeria - Lisboa

Até 15 de Maio está patente REMIX, uma exposição individual de Rui Valério (Lisboa, 1969), a segunda do artista na galeria desde Volume II em 2009. Recorrendo e subvertendo os formatos convencionados de galeria, nomeadamente a pintura, a fotografia, a escultura e o desenho, REMIX reflecte a ligação do artista a um universo de imagens e de sons associados à indústria da música popular e suas vanguardas, bem como a sistemas de reprodução de som utilizados e disseminados por esta mesma indústria. O espaço onde Rui Valério trabalha é uma espécie de local de escuta, uma câmara sonora onde o objecto – audível ou mudo, gravado ou visual – é contemplado e examinado, não como algo fixo e ossificado, um artefacto do nosso passado recente, mas onde a densidade, a sonância, as experiências, o valor e as memórias das coisas são pensadas e moldadas. Algures entre, como o próprio afirma, a reprodução e a representação, a repetição e a re-visão, a reprodutibilidade mecânica e a plasticidade subjectiva, as capas de disco que Rui Valério escolhe reproduzir excedem a duplicação e interacção. Ao editar determinados detalhes, e valendo-se de outras tecnologias, estas obras transformam-se em doppelgangers, personagens que repetem as suas falas, cuja entoação é, apesar da sua aparência, dissemelhante. Em determinadas instâncias, estas versões também visam grifar o suporte, ou seja, as telas onde são reproduzidas as capas. A pintura é tratada como um objecto, isto é, um tecido distendido sobre um suporte rígido e estruturado de madeira, que o artista destaca da parede e trata na sua tridimensionalidade, inserindo-a no espaço. Aproximando-a da escultura, a pintura é subtraída da sua acepção histórica e ilusionista - uma superfície plana que acolhe uma composição, uma imagem - transformando-se num objecto instalado, com instruções de montagem. Ao seleccionar o seu material, Rui Valério retira os objectos dos seus circuitos habituais de troca e de circulação, libertando-os da sua lógica dominante. Operando uma cisão, uma espécie de corte, expõe essas lógicas, agora estratificadas, indirectamente ao nosso escrutínio. Rui Valério parece questionar o consumo que fazemos da tecnologia e a sua substituibilidade, seguindo uma estratégia de apropriação como evocação.
MARZ Galeria | Rua Reinaldo Ferreira 20-A | Lisboa | Quarta a Sábado das 12h às 20h e Domingo das 14h às 20h | www.marz.biz

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