Até 27 de Abril está patente a exposição LCL – Less than a Container Load de Manuel d’Olivares . Desde pequeno, Manuel d’Olivares mudou de casa várias vezes. As mudanças tornaram-se uma constante na sua vida. Nessa exposição, o artista apresenta objectos que mostram, em síntese, o processo das mudanças de residência e, ao mesmo tempo, revelam-nos, em parte, os estados de ânimo ligados a esse evento. Nas suas pesquisas e desenvolvimento plástico, o artista parte da técnica da décollage que se desenvolveu nos anos 50 com os décollagistes ou affichistes franceses e do pintor italiano Mimmo Rotella. Estes criavam as próprias obras a partir dos cartazes publicitários que rasgavam das paredes durante as vadiagens urbanas e que fixavam no atelier, sobre um fundo de pintura, para depois rasgá-los novamente, de maneira que surgissem novas mensagens escondidas como num palimpsesto. Rotella aproximou-se no fim dos anos 60 à pop art, não se limitando a colar os cartazes numa base, mas reproduzindo, em série, o resultado. A tradução da pop art de décollage, desenvolvida por Mimmo Rotella, consiste, assim, na reprodução serigráfica do cartaz rasgado. É nesse ponto que parte e se liga a obra de Manuel d’ Olivares. Porém, o artista dá um importante passo em frente, recusando a elaboração das próprias obras com a reprodução mecânica e voltando às bases da criação pictórica, ou seja, à materialidade das cores e à destreza manual. As imagens, que antes divulgavam um conteúdo ligado à própria função, por exemplo, o anúncio de um filme ou de um outro produto, assumem agora, pintadas em contentores/caixas ou outros suportes, um conjunto de novos significados ligados aos mesmos. Enriquecidas de conteúdos existenciais que saem da história pessoal do artista, falam directamente a cada indivíduo pela própria universalidade. O facto de terem saído das paredes e de revestir objectos tridimensionais. confere às imagens maior imediatez. A colocação mais ou menos casual no espaço, sugere ao visitante uma outra perspectiva e estimula a sensibilidade. Também a escolha de pintar imagens em objectos de uso quotidiano aumenta a eficácia da mensagem. Os suportes dos objectos pictóricos comunicam-nos a própria essência originária (caixas como contentores, objectos amarrotados como papel deitado fora) criando assim um contexto emotivo que as imagens pintadas completam com os conteúdos racionais. (Monika Osvald - Professora de História d’Arte na Universidade de Liubliana)
Galeria São Mamede | R. da Escola Politécnica, 167 | Lisboa | Segunda a Sexta das 10h às 20h e Sábado, das 11h às 19h | www.saomamede.com
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