Até 11 de Março está patente a exposição As Esculturas, de Ângelo de Sousa. As Esculturas que agora se apresentam, foram elaboradas para exposição Ainda mais escultura comissariada por Nuno Faria (Lisboa: Cordoaria Nacional, 2006). Elas reflectem um momento de síntese na obra de Ângelo de Sousa, em que procurou fixar o léxico das formas e dos meios artísticos em que trabalhava em meados dos 60, mas revelam igualmente a oportunidade de “voltar à escultura” em 2006. As maquetas originais, tridimensionais, recortadas em chapa de alumínio, não foram, na sua maioria, concretizadas em “tamanho real.” Do tamanho de uma mão, essas maquetas ainda existem, assim como fotografias delas. Não são conhecidos esboços rigorosos, mas sugestões delas podem datar-se através de anotações que o autor compilou a partir de 1966. Ângelo resistiu ao abandono destes projetos, mas as esculturas “à escala real” de 2006 não são meras ampliações de um gesto antigo, assim como as reproduções fotográficas das esculturas não são meros documentos da obra. Ângelo de Sousa partiu das notas dos anos 60 e fez “ainda mais esculturas”. Sem se limitar “ao princípio” minimal pelo qual a sua obra é conhecida, as novas esculturas aparecem como linhas de desenho soltas no espaço e as fotografias como uma narrativa histórica complexa, onde se salienta a polivalência da imagem, entre objeto experimental, forma/ ferramenta de trabalho e registo documental. Como imagens de um autor, elas representam um determinado olhar que tem que acompanhar a historiografia sobre a obra deste artista. A obra de Ângelo de Sousa revela um profundo conhecimento dos diferentes mediums que simultaneamente utilizou. É esta cortina do olhar – forma de observação e de pensamento em constante desafio – entre o ato criativo e o documental, especialmente latente no filme e na fotografia, que se procura entreabrir nesta exposição/ publicação, ao justapor as esculturas de 2006 e as fotografias que Ângelo de Sousa fez antes e a partir delas. Se as esculturas se transformam profundamente através do olhar, é na fotografia, que não deixa de registar o movimento e a manipulação do observador – apesar de não fazer dele o sujeito da representação –, que o olhar de Ângelo de Sousa ficou inscrito. Como nem as peças nem o olhar são estáticos, podemos literalmente dizer que estas esculturas têm dimensões variáveis. Só a multiplicidade de escalas, materiais e olhares é que nos pode conduzir à verdadeira dimensão da sua obra.
Teatro Municipal da Guarda |Rua Batalha Reis, 12 | Guarda | Terça-feira a Sábado, das 17h às 20h | www.tmg.com.pt
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