Até 30 de Março está patente a exposição, Trabalho, de Ana Santos. Numa época em que a maioria das imagens e dos objetos vem encapsulada numa retórica que tantas vezes lhe é extrínseca, as obras de Ana Santos (Espinho, 1982) parecem-nos estranhamente mudas. Embora possamos entreter a hipótese de estarmos perante corpos puramente abstratos e de ser essa a razão do seu mutismo, não podemos, todavia, deixar de reconhecer que há neles algo de familiar. Por um lado, esta sensação justifica-se pelo facto de alguns destes corpos terem sido, um dia, produtos plenamente funcionais como guarda-chuvas, arquivadores, dossiês ou hula hoops, agora intervencionados e recombinados pela artista. Por outro lado, e a par dos resultados desta estratégia apropriacionista, o trabalho de Ana Santos integra também um conjunto de obras nascidas por intermédio da transformação direta de materiais como a madeira, o mármore ou o chumbo e cujas formas finais parecem constituir signos de um léxico ainda por determinar mas já carregado de um claro sentido. A adoção descomplexada destas duas estratégias produtivas coloca o trabalho de Ana Santos na fronteira entre as grandes tradições escultóricas da modernidade. Porém, longe de se embrenhar num diálogo com a história deste meio ou com as suas múltiplas ambições, a sua obra ganha singularidade no modo rigoroso como coloca cada um destes objetos nesse ponto de estranha familiaridade capaz de os revestir, a um tempo, de um poder fundador, de um caráter alegórico e de uma função litúrgica. A exposição que agora se apresenta no Chiado 8 trata desse efeito para lá de toda a retórica, dessa mudez produtiva que define um campo de ação e que requer participantes muito mais do que espectadores.
Chiado 8 Arte Contemporânea | Largo do Chiado, 8| Lisboa | Segunda a Sexta-feira, das 12h às 20h
Chiado 8 Arte Contemporânea | Largo do Chiado, 8| Lisboa | Segunda a Sexta-feira, das 12h às 20h
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