Até 6 de Maio está patente a exposição, Frutos Estranhos – título de uma série de obras de 2006 de Rosângela Rennó – acabou também por ser o título da exposição antológica que cobre mais de duas décadas de trabalho (1991-2012) da artista nascida em Belo Horizonte-Brasil em 1962. A razão deve-se não só ao facto de ser um título de algum modo enigmático e logo sedutor, instaurando, pensamos, o desejo de ver, de espreitar, de olhar e contactar com o estranho, mas também porque pensamos que é uma boa síntese da atitude de Rennó frente à fotografia e de um modo mais amplo perante o universo das imagens técnicas. A artista não fotografa, não é uma fotógrafa, dado que as imagens que compõem a sua obra não resultaram de um acto físico e mental operado inicialmente por si: não foi ela que carregou no botão, que enquadrou, que registou. O seu ato artístico é o de uma recoletora de imagens de diversas proveniências, desde álbuns de família a fotografias de jornais e de agências de informação, passando por obituários, fotos de identificação e de arquivos cadastrais ou ainda memórias turísticas. As imagens – com exceção do seu trabalho em vídeo – são sempre encontradas e escolhidas, é o object trouvé duchampiano alargado a toda a representação, são imagens trouvés, não manufaturadas pela artista, antes recontextualizadas, reenquadradas, ampliadas, re-imprimidas. São assim de algum modo frutos de uma árvore-vida que a artista se limita a colher e depois a mostrar, a dispôr, por vezes de um modo estranho, que nos leva a vê-los, a esses frutos do olhar e da memória dos outros, com uma nova visão e cosmogonia.
Centro de Arte Moderna - Fundação Caloustre Gulbenkian | Rua Dr. Nicolau de Bettencourt | Lisboa | Terça a Domingo das 10h às 18h - Última entrada no museu às 17h45 | www.cam.gulbenkian.pt
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