Recorrendo à pintura sobre tela, papel e parede (a última executada, necessariamente, in situ), a presente exposição reflecte o diálogo que a artista estabelece com o medium da pintura, bem como a avaliação e distância crítica que procura manter com a sua obra, a partir do momento em que começa a espalhar óleo ou a aplicar spray sobre a superfície escolhida, até o momento em que monta o trabalho no espaço, espacializando-o, criando com ele uma envolvência para o espectador. Tendo apresentado e iniciado a sua produção no âmbito da iniciativa O Declive, tratando-se de uma individual, esta exposição apresenta a amplitude da sua ainda jovem produção e o modo como procura articular os seus diversos suportes, que englobam o papel impresso com imagens encontradas, de natureza mítica, que sofreram um processo de redimensionamento e pintura, telas de dimensões médias, e por fim, as paredes do próprio espaço expositivo. Estes suportes são estruturados de forma a tecer uma narrativa, uma cadeia ou tecido de ideias associadas. No caso da exposição, a artista estrutura e dá corpo a um texto visual provisório, utilizando determinados sinais gráficos, neste caso, o til, que em português serve para indicar a nasalidade da vogal, bem como uma espécie de ponto final fragmentado. Inseridos no espaço, a artista liga e modula os diversos trabalhos através desta quase construção frásica. Quando observados, estes sinais, juntamente com o alinhamento das peças, anunciam momentos de silêncio e de calma, outros de grande expressividade, ou até mesmo de exultação. Estes instantes - de tensão, percepção, colisão ou fluxo, de intersecção e de cruzamento - gerados por operações de contraste, oposição e equilíbrio, à imagem do movimento sereno das marés ou então, e por contraste, o impacto das vagas que por vezes se faz sentir, imprimem valores de unidade, harmonia, domínio, conflito, repetição e variação à leitura.
Embora o trabalho de Ana Manso provenha da cor, a sua pintura é um regresso ao primado do nocturno. Quando observado, o manto negro que cobre a cor dificulta a visualização, inibindo a fácil descrição ou designação de cada trabalho. As texturas inconstantes do medium, aliado a cores mutáveis, que alteram subtilmente com a qualidade de luz existente, encontram-se imersas numa escuridão que se antecipa e que regride, numa espécie de vai e vem. Primeiro plano e fundo confundem-se, agitam-se. Não figurativa, indefinida, atmosférica, não hard edge, o processo da pintura em si, a artificialidade da pintura como puro gesto e cor, é adoptada pela artista para produzir e apresentar imagens onde a forma, a reverberação e o sentido emergem da superfície pintada. Extraídas das zonas mais remotas do consciente, a figura que surge deste lugar – o abismo ou eclipse – é um símbolo de enorme valia universal. ND
MARZ Galeria | Rua Reinaldo Ferreira 20-A | Lisboa | Quarta a Sábado das 12h às 20h e Domingo das 14h às 20h | www.marz.biz
Embora o trabalho de Ana Manso provenha da cor, a sua pintura é um regresso ao primado do nocturno. Quando observado, o manto negro que cobre a cor dificulta a visualização, inibindo a fácil descrição ou designação de cada trabalho. As texturas inconstantes do medium, aliado a cores mutáveis, que alteram subtilmente com a qualidade de luz existente, encontram-se imersas numa escuridão que se antecipa e que regride, numa espécie de vai e vem. Primeiro plano e fundo confundem-se, agitam-se. Não figurativa, indefinida, atmosférica, não hard edge, o processo da pintura em si, a artificialidade da pintura como puro gesto e cor, é adoptada pela artista para produzir e apresentar imagens onde a forma, a reverberação e o sentido emergem da superfície pintada. Extraídas das zonas mais remotas do consciente, a figura que surge deste lugar – o abismo ou eclipse – é um símbolo de enorme valia universal. ND
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