terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Inter-Atrium Arte Contemporânea - Porto


A partir de 15 de Janeiro a 26 de Fevereiro estará patente a exposição de Martin Bradley, Aguarelas: 1990-2005. À primeira vista as obras de Martin Bradley podem induzir-nos no erro de as considerar ligeiras, sem reflexo. A sua frescura, a execução simplista, a vivacidade do colorido, a grande fantasia das composições, o aspecto simpático dos personagens como bonecos de diversão...a expressividade tão directa...tudo irradia espontaneidade e produz uma sensação de optimismo ingénuo, de alegria quase inconsciente. Contudo, se as observarmos com mais atenção, percebe-se que não é tudo tão evidente e simples. A profusão de grafismos, signos, símbolos e formas estranhas enevoam o seu significado, dificultam a sua compreensão. Pois, se para ele pintar, é tão fácil quanto falar ou escrever, através de formas e cores, o que na realidade importa, como em qualquer linguagem, é o significado dessas imagens que nos oferecem, desde divertidas críticas de costumes a profundas reflexões sobre o ser ou o tempo. Por vezes, o autor proporciona-nos pistas, algumas inclusivamente, por escrito, no próprio quadro, mas nunca teremos todas as chaves para entrar no enigma, decifrar os seus códigos, alguns de tal forma inconscientes que nem para ele são diáfanos. Todavia, a intuição da complexidade da sua obra não nos deve impedir de a desfrutar sem, contudo, cair em excessivo intelectualismo, basta com que abramos a nossa sensibilidade para que não fiquemos à superfície, além de que permite diversos níveis de leitura ( as crianças desfrutam ante estas obras que lhes sugerem mil e uma histórias) todos eles válidos, desde o mais imediato ao mais profundo. Nem sempre, a fonte, a origem de onde se alimenta e surge a obra de um artista, as influências, que se lhe pode notar, são conscientes, e muitas vezes tão somente, parecidos casuais. Na obra de Bradley parecem confluir um sem fim de elementos da cultura universal, da arte oriental e ocidental misturadas num fluxo de criatividade espantosa e inesgotável. Conhecendo o predomínio de escritores no seu circulo de amigos, não é de estranhar a sua predilecção pela literatura como fonte directa de inspiração que lhe sugere, quase dita, imagens. Neste campo, as suas preferências decantam-se pela narrativa fantástica, os contos japoneses e, sem dúvida, Lewis Carroll com Alice no País das Maravilhas, o qual teve ocasião de ilustrar com 64 litografias para uma Edição Especial de l’Imprimerie Nationale. Um repertório inesgotável de recursos pictóricos ao serviço da imaginação privilegiada de um fabulista que configura um universo dotado de um sentido filosófico profundo e ambientado num subtil sentido de humor. A pintura de Martin Bradley tornou-se uma espécie de mitologia pessoal com a sua própria iconografia e simbologia, actualizando algo tão intemporal como o surrealismo que sobrevive desde El Bosco, mas que, ao mesmo tempo apresenta uma visão comprometida do mundo em que actualmente vivemos. Com uma trajectória vital e artística, inseparável, formando uma metáfora de viajem, a viajem física ( observemos a frequente representação de barcos, comboios ou aviões) mas, também, a viajem de vivências, mental, de exploração (Marco Polo) e, a de engrandecimento espiritual na experiência (Ulisses), à qual se une o canto constante à universalidade, a uma humanidade unida na riqueza da sua própria diversidade, são, também, atributos que emanam da sua obra. Por tudo isto, podemos afirmar que este poliglota vocacional, viajante indómito e aventureiro desde a infância, sempre à procura da sua verdade e do conhecimento, simboliza com a sua pintura o espírito sincero e utópico de algo tão actual como a globalidade, mas não de uma globalidade falsa que obedece a interesses mercantis como aquela que nos querem impor, sim uma autêntica, de pessoas, costumes, culturas e línguas, capaz de diluir as barreiras do tempo, do espaço e das fronteiras. (Raquel Medina de Vargas|Doutora em História de Arte|Critico da Associação Internacional de Críticos de Arte)
Inter-Atrium Arte Contemporânea | Av. Boavista, 3041| Porto | Segunda a Sexta das15h às 20h| Sábado das11h às 13h e 15h às 20h | www.interatrium.com

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