quarta-feira, 3 de novembro de 2010

GALERIA PEDRO OLIVEIRA - Porto

Até 11 de Dezembro está a decorrer a terceira exposição individual de Marco Pires na Galeria Pedro Oliveira, intitulada X, Y, Z . A fórmula presente no título sintetiza as coordenadas que estão na origem da concepção cartesiana de entendimento do espaço e as relações entre os seus objectos. A exposição distribui-se pelas três salas, com trabalhos de séries distintas que o artista trabalha em simultâneo, e que são exibidas numa lógica que pretende criar relações em lugar de se apresentarem individualmente. Se num primeiro momento se criam correspondências com o espaço social e a sua relação com a arquitectura e geometria, assistimos na segunda sala à destruição de coordenadas que induz à deriva. Num terceiro momento, a par de uma série de desenhos, surge um trabalho com uma dimensão documental, ainda que ficcionada. É apresentada em formato de livro e fotografias. O corpo de trabalho de Marco Pires e em particular no campo do desenho desenvolve-se segundo um movimento dialéctico de tese e anti-tese ou de afirmação-negação. Esta práctica parte da utilização e recontextualização de documentos e imagens que o artista vai recolhendo para depois intervencionar, suspendendo os seus atributos científicos e introduzindo camadas de novas possibilidades e leituras, numa dimensão onde o erro, a hesitação e a deriva emergem. Esta recontextualização de elementos pré-existentes encontra um paralelo na práctica do détournement (desvio), que antes ainda de ser sistematizada e estudada nos textos da Internacional Situaccionista tinha surgido décadas antes com o uso da collage, introduzida por Picasso no início do sec. XX e reutilizada pelos dadaístas e surrealistas misturando textos, pinturas e imagens de toda e qualquer proveniência numa tentativa de subversão dos valores estéticos burgueses da época. Não é esta obviamente a intenção de Marco Pires, até porque historicamente a práctica do détournement como subversão evoluiu e acompanhou as revoluções sociais e artísticas, fundido-se na história da música com o punk e o do-it-yourself, acabando por ser absorvido pelo sistema capitalista que questionava. O que é relevante para Marco Pires é a recuperação de um sistema lúdico que advém da possibilidade de desenvolver novos paradigmas baseados em relações e associações nos objectos e documentos de onde parte, negando e simultaneamente dando a ver de novo, criando novas leituras.
Galeria Pedro Oliveira | Calçada de Monchique, 3 | 4050-393 Porto | Terça - Sábado 15-20H | www.galeriapedrooliveira.com

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