segunda-feira, 11 de abril de 2011

COLORIDA GALERIA DE ARTE - Lisboa

Até 22 de Abril está patente a exposição de pintura Delicadezas no Silêncio de Helena Lopes. Composto por trabalhos elaborados a partir de tecidos de algodão, modificados por camadas de cera, tinta e fios, o conjunto de obras que Helena Lopes apresenta nesta exposição se desloca entre a pintura e o desenho. Com linhas e ranhuras que tramam a estética da delicadeza, a artista corta e tece reflexões sobre a representação dos ciclos da vida. Há muito de gestualidade e destreza nas 34 telas que conduzem o olhar a exercício sobre o movimento dos fios de cor, que alternam força e suavidade. Movimento que, de tão delicado e subtil, se move quase no silêncio. A delicadeza impõe-se ainda por meio de um jogo que se apropria de antiga tradição vinculada ao feminino, o ato de bordar, associada à pesquisa intensa na busca por materiais mais adequados aos ritmos dos trabalhos. São três os tipos de tecidos escolhidos como suporte. Aquele usado em fraldas de recém-nascidos, a tarlatana destinada ao forro de vestidos de noivas e a gaze hospitalar utilizada em enfermos. Ao decidir por tecidos que se vinculam a ciclos do existir, Helena Lopes sugere aproximação ao trabalho das moiras, entidades da mitologia grega que fiavam a vida. A artista debruça-se sobre a origem e o destino dos seres e das coisas, preocupação simbolizada nos fios que delineiam, unem e cortam tramas. O estudo cromático indica a investigação de recursos oferecidos na natureza, na perspectiva de cada vez menos usar tintas industrializadas. Na série de obras entre o ocre e o vinho, novelos, linhas, trapos e tiras são mergulhados em mistura de água com pó ralado do tronco da ancestral árvore Pau-Brasil, que dá nome ao país da artista. Disposta a compartilhar com o visitante, de maneira mais intensa, suas experiências com esses materiais, a artista instalou na galeria um varal de roupas, com exemplares da matéria-prima que manipula. Tecidos, linhas e fios convidam o visitante à experiência do tacto, à redescoberta de asperezas e maciezas que projectam o imaginário sobre as precárias vestes da existência. Ao tocá-los, o corpo do visitante poderá dialogar mais intimamente com o corpus da exposição. (texto de Graça Ramos | Doutora em História da Arte pela Universidade de Barcelona)
Colorida Galeria de Arte | Rua Costa do Castelo, 63, | Lisboa | Terça à Sábado das 13h30 às 19h | www.colorida.pt

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